José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo
SOROCABA - O aposentado Cid Odin Arruda, de Sorocaba, acaba de atingir um
recorde: aos 95 anos, ele alcançou a marca de dez mil livros lidos.
Simbolicamente, o décimo milésimo volume foi retirado no último dia 9 do
Gabinete de Leitura Sorocabano, quando Arruda levou para casa o volumoso “O
Cemitério de Praga”, do escritor Umberto Eco. “Estava curioso, mas fiquei um
pouco decepcionado com a história”, comentou três dias depois, com a leitura
quase no final. A marca obtida pelo homem que se diz “viciado em livros” é
simbólica. A rigor, ele acha que leu alguns milhares de títulos a mais. “Antes,
minha média era de quatro livros por semana”, diz.
O aposentado não guarda livros em casa. Ele prefere viajar em busca de boas
leituras e se tornou conhecido em bibliotecas até de outros Estados, como o Rio
de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Em Guarapari (ES), esteve 22 vezes e em todas
visitou a biblioteca. Funcionários desses locais veem-se no dilema de encontrar
um livro que Arruda ainda não tenha lido e já se referem a ele como o “senhor
Biblioteca”. No Gabinete de Leitura, em Sorocaba, fundado em 1866, ele é um dos
sócios vivos mais antigos. Em 2008, foi agraciado com a medalha cultural
concedida a pessoas compromissadas com a cultura. O problema é que ele já leu
quase todo o acervo, segundo a funcionária Nilcéia Alves dos Santos. “Quando ele
pede um livro, tenho de buscar lançamentos.”
Na companhia da mulher, a professora Elza Bertazini Bracher, de 86 anos, também amante dos livros, Arruda viaja entre oito e dez vezes por ano e escolhe como destino cidades que têm bibliotecas. Ele prefere edições volumosas, mas com personagens bem definidos. Um de seus recordes foi um livro de 1.110 páginas lido em cinco dias. “Sou ruim para nomes, mas lembro que a coleção mais detalhada de Os Miseráveis (Vitor Hugo), com sete volumes, foi lida em uma semana.”
O hábito da leitura vem de família. O avô, José Antão de Arruda, foi o primeiro bibliotecário do Gabinete Sorocabano, cargo depois exercido por seu pai, José Odin de Arruda. Era função do bibliotecário indicar livros para estudantes e sócios. “Como meu pai não tinha tempo de ler todos, pegava um pacote de livros e pedia que eu lesse e contasse a história para ele.” O então menino de 12 anos pegou gosto. “Lia às vezes um livro inteiro no dia e, quando eu dizia que era ruim, meu pai vetava.” Ele também era incentivado pela mãe, professora.
Apesar da paixão pela leitura, Arruda não gostava de estudar e, ao contrário dos pais, que hoje dão nome a escolas da cidade, não se tornou professor. “Sempre preferi o comércio e só estudei até o primeiro ano da antiga escola normal.” Arruda leu todos os clássicos, de “Os Lusíadas” (Camões) a “Dr. Jivago” (Boris Pasternak) e a Bíblia completa, várias vezes. Entre os preferidos estão obras que versam sobre reis, imperadores e faraós. Entre os brasileiros, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Jorge Amado. “Oh, caboclo bom!”, diz sobre o baiano. Sobre os autores modernos, uma crítica. “Eles criam personagens demais, deixam o livro difícil de entender.” Arruda ainda toma ônibus para ir à biblioteca e se considera um dos mais antigos leitores do Estadão. “Ele é um fã, a primeira coisa que lê na biblioteca é o jornal”, diz dona Elza.
Epitácio Pessoa/Estadão
Aposentado ganhou medalha cultural em
2008
Na companhia da mulher, a professora Elza Bertazini Bracher, de 86 anos, também amante dos livros, Arruda viaja entre oito e dez vezes por ano e escolhe como destino cidades que têm bibliotecas. Ele prefere edições volumosas, mas com personagens bem definidos. Um de seus recordes foi um livro de 1.110 páginas lido em cinco dias. “Sou ruim para nomes, mas lembro que a coleção mais detalhada de Os Miseráveis (Vitor Hugo), com sete volumes, foi lida em uma semana.”
O hábito da leitura vem de família. O avô, José Antão de Arruda, foi o primeiro bibliotecário do Gabinete Sorocabano, cargo depois exercido por seu pai, José Odin de Arruda. Era função do bibliotecário indicar livros para estudantes e sócios. “Como meu pai não tinha tempo de ler todos, pegava um pacote de livros e pedia que eu lesse e contasse a história para ele.” O então menino de 12 anos pegou gosto. “Lia às vezes um livro inteiro no dia e, quando eu dizia que era ruim, meu pai vetava.” Ele também era incentivado pela mãe, professora.
Apesar da paixão pela leitura, Arruda não gostava de estudar e, ao contrário dos pais, que hoje dão nome a escolas da cidade, não se tornou professor. “Sempre preferi o comércio e só estudei até o primeiro ano da antiga escola normal.” Arruda leu todos os clássicos, de “Os Lusíadas” (Camões) a “Dr. Jivago” (Boris Pasternak) e a Bíblia completa, várias vezes. Entre os preferidos estão obras que versam sobre reis, imperadores e faraós. Entre os brasileiros, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Jorge Amado. “Oh, caboclo bom!”, diz sobre o baiano. Sobre os autores modernos, uma crítica. “Eles criam personagens demais, deixam o livro difícil de entender.” Arruda ainda toma ônibus para ir à biblioteca e se considera um dos mais antigos leitores do Estadão. “Ele é um fã, a primeira coisa que lê na biblioteca é o jornal”, diz dona Elza.
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